quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Um rascunho de noite

Cada eco que estimulávamos trepidava longamente pelos canais do quarto escuro. Eu e ela, eu e você, você e ele; nós dois. Então você se desfez das suas roupas, ou ela se desfez, não sei mais, muito mais rápido do que eu ou ele ou nós dois poderíamos notar. Estávamos comovidos pela existência do ato, e não por ele em sí.
Então ela, ou você, ou ambas, se deitaram, nuas, me olhando, ou a ele; os olhos marejados e suplicantes, talvez de desejo, não sei, ele talvez saiba. Fiquei um longo tempo te olhando, ele não olhava, ela não se deixava olhar; eu deitei, ou ele deitou e eu fiquei observando, você e ele ou eu e ela ou talvez eles dois enquanto olhávamos. Eu te beijei? Ou foi ele? Ela, quem sabe?
Será que meus lábios se moveram num sussuro, ou só observei à distância segura?
Acho que te amei por alguns minutos, senti cada parte do seu corpo com meus dedos, com a ponta deles, senti teu seio macio, ele é macio? na minha imaginação talvez, os seios dela eram pequenos, quase invisíveis, os seus não sei, talvez ele saiba.
Talvez eu saiba como os teus são, e ele saiba como são os dela.
Talvez ele saiba como ambos são macios e belos e eu simplesmente não saiba porra nenhuma.
Mas aí eu te vejo despertando ao meu lado, teu hálito já não me é tão agradável mas eu sorrio mesmo assim porque sei que o efeito do halls na minha boca também já se foi há tempos. Beijo-te em silêncio e me proponho a te preparar o desjejum, e você me pede torradas e ela croissant e ele café preto. Não sei se dou conta de trazer tudo na mesma bandeja.
O teu toque suave na minha face.
Ou você tocou o rosto dele, mas fui eu quem o sentiu?
Acho que é mais ou menos aí que percebo que ela já se foi, que você nunca esteve e que ele é quem sempre existiu. Percebo as coisas cruas e frias me deslizando espinha adentro, brigando por seu espaço, é ali onde eu vejo as coisas como elas são.. Ou será que estou imaginando isso também? Na minha cabeça, tudo é tão confuso e eu não sei a hora de parar, então você se levanta e se veste e ela vai-se seminua e ele nunca esteve aqui, só você e ela e eu acho que também estava, mas quem há de dizê-lo?
À tarde, vejo a outra me olhando de soslaio, e aí eu penso se ela realmente me olha ou se sou eu quem quer isso tão desesperadamente que retê
m cada piscadela como se fosse a minha. Pesco os movimentos leves e vejo a outra e penso nela e me lembro de você. Eu penso em muitas coisas e lembro de tantas mentiras e tento não focar em nada, e talvez eu sequer esteja aqui, e acho que só o que eu preciso é de mais um café e mais uma cerveja ou mais um cigarro ou mais um sonho e então desvaneço.

5 comentários:

Carolina Pires disse...

meu deus, lindo texto, lindo mesmo!
muito obrigada pela visita!
Volte sempre!

Voltarei aqui mais vezes também! :)
beijinhos

Carolina Pires disse...

"Rafael Ucha Campos disse:
absurdo. sério. absurdo mesmo...."

isso foi bom ou ruim? hauiehuiaheiua

Andréia Dieter Reis disse...

"Textos que não se esgotam em uma só leitura" diria a minha professora aquela. Olha, esse escrito dá sede, subentenda-se de tantos quês.

Erebu disse...

Eu penso em muitas coisas e lembro de tantas mentiras e tento não focar em nada, e talvez eu sequer esteja aqui, e acho que só o que eu preciso é de mais um café e mais uma cerveja ou mais um cigarro ou mais um sonho e então desvaneço.
Porra...muito massa!

thiago mottanetto disse...

vai tomar no cu, meu amigo
vc tem que escrever um livro.

já sou seu fã, seu miserável.