segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Pequenos desvios de curso em alto-mar (ou como retorcer estômagos vazios com gim)

Ela cresceu. Tem 22 anos agora; as espinhas desincharam para dentro do seu rosto, os seios despontaram, e ela agora anda nua pelo quarto, o telefone na mão e o espelho refletindo o corpo que ela outrora se cansou de amaldiçoar. O corpo que ele admira, de longe, secreto e em silêncio.
E seguem alheios um ao outro, distância segura, um sorriso guardado e a cada suspiro a visão embaçada um do outro vem e volta, um único frame de desejo retorcido; a ausência do palpável, a discrição medida, ainda que imposta; a falta de ousar... mesmo que, em segredo, não durmam sem pensar um no outro, mesmo que seus sonhos sejam frequentemente conectado, construídos pela vontade mútua; ainda que os corpos sejam tocados na imaginação, os lábios, a pele macia e indistinta - tudo apagado pela voz estridente do despertador -; mesmo assim dentre eles não há nada que não seja platônico, que não seja guardado. Que não seja irrealizável.
Ambos são uma fagulha única perdida na escuridão.
E se embriagam um na falta do outro.
E cada beijo roubado é um sonho perdido entre os sons da cidade.

Eís o destino, paralelo e irreconciliável, dEle e dEla. Os passos ecoam e se perdem antes de chegarem aos ouvidos alheios. E não há nada, nem mesmo o amor - sobretudo o amor! - que possa apaziguar o tremor e o vazio que a falta do toque um do outro traz, ainda que nunca tenham se tocado.
Ainda que nunca tenham se conhecido.
Ainda que nunca irão se conhecer.