....... E essa é meio que
toda a história. Bom, quer dizer, essa é uma parte da história,
tendo em vista que a história continua, quer dizer, não é como se
a mina tivesse morrido logo após o fim da história nem nada, foi só
uma coisa, tipo, vamos dizer assim, é a minha história, né, não a
história dela, e eu tou te contando uma parte dessa história e aí
é essa parte que realmente importa e por isso a parte dela ou ela
própria enquanto personagem da minha história continua mas continua
pra ela mesma ou pra ela enquanto personagem da história de outro
cara, mas não na minha.
Mas isso é muito
louco, se você para pra pensar, quer dizer, ela foi alguém
fisicamente estável na minha história, ela foi tipo, ela foi uma
coleção de átomos e moléculas e órgãos na minha vida e agora
ela é, bom, ela não é mais isso. Bom, ela é, mas não aqui não
agora. Agora ela é uma personagem. Entende o que eu quero dizer? A
presença física dela me é agora algo irrelevante – na verdade, a
presença física dela me seria ultrajante, mas não não é bem
disso que eu tou falando – tou dizendo assim que, enquanto persona
na minha vida ela não existe fisicamente. Pô, você sacou, né? Não
é tão difícil assim, é?
E isso faz a gente
pensar. Quer dizer, se liga: nesse exato momento, é muito possível,
eu diria até que na verdade ao contrário, é quase IMPOSSÍVEL que
ela mesma não esteja em tipo algum outro bar, com uma amiga, uma
amiga tipo assim você, né?, e ela não teja também contando essa
história pra ela, a amiga, só que não é a mesma história, saca?
Não é, porque nela EU sou só um personagem. Eu não existo mais na
vida dela, e aí... e aí...
Então, tipo, quer
dizer, a vida é meio que só, ó, calmaí, acompanha meu raciocínio,
olha; quantos relacionamentos você já teve? E não tou dizendo
assim nem relacionamentos sérios só, aqueles que duram anos e anos
e todo o lance traumático de conhecer a família e fazer votos e
esquecer coisas na casa dele(a) e depois quando tudo termina você
ter que só, tipo, simplesmente deixar essas coisas para lá e nunca
mais ir buscá-las e aliás nem mesmo comprar outras coisas novas que
substituam aquelas que você deixou pra lá porque o simples fato de
comprar as mesmas coisas novas e/ou de novo é insuportavelmente
doloroso, mas aqueles relacionamentos que englobam tudo, até tipo
sei lá um carinha que você viu uma vez na balada e vocês trocaram
olhares e um sorrisinho meio bêbado safado mas os dois vacilaram
porque talvez não tivessem bêbados o suficiente e vocês nunca
então nem chegaram a tipo trocar uma palavrinha um com o outro nem
nada, sabe? Isso conta como um relacionamento também, é inegável,
quer dizer, em algum sentido vocês afetaram a vida um do outro,
sabe? Agora pensa que esse relacionamento, e todos os outros, tipo,
eles são só ficção agora. Entende? Esse carinha com quem você
nunca trocou uma palavra conta pros amigos do dia que ele tava nessa
balada e tinha essa garota linda que olhou pra ele mas ele não fez
nada e pronto – você deixa de ser você tipo
só-e-apenas-você-no-sentido-físico-e-real pra se tornar uma
personagem na narrativa da vida desse sujeito com quem você nunca
falou e de quem você sequer saber o nome. E não para por aí: todo
relacionamento que você já teve e provavelmente todo relacionamento
que você terá, eles são só a base pra que, futuramente, uma
história seja extraída deles (i.e., dos relacionamentos). Então,
quer dizer, é como se a vida só existisse pra ser não-vida, pra
ser ficção. Ou seja, é meio que a nossa sina sermos
inevitavelmente transformados em personagens das narrativas de outras
pessoas, as pessoas que nos abandonaram ou que nós abandonamos, e
tudo é só isso quer dizer, pensa bem, nós somos apenas
personagens. Agora pensa comigo, só pensa comigo um minutinho, tá?
porque veja bem, se nós somos inevitavelmente personagens na
narrativa de outras pessoas, o que nos garante que as próprias
narrativas das outras pessoas não são elas próprias só
personagens na narrativa de uma terceira pessoa, tipo como uma boneca
russa, uma história dentro de uma história dentro de uma história
todas elas sendo construídas a partir da desgraça alheia, do fato
de que nós, como pessoas, somos irremediavelmente falhos e egoístas
e egocêntricos e tudo o que tá ao nosso redor é só material de
destruição em potencial e não é sequer nossa culpa se você para
pra pensar porque no fundo no fundo a gente é apenas isso apenas
personagens da historiazinha que outra pessoa tá contando e tá tudo
fora do nosso alcance e a gente apenas ACHA que tem algum controle
sobre as coisas o livre-arbítrio é só uma palavra composta tipo
duas palavras com um hífen no meio que por acaso escritas e/ou ditas
assim tem um significado semântico único mas não significam
realmente nada porque isso é no fim das contas irreal e a gente
apenas segue o fluxo sem a menor capacidade de conseguir mudar
efetivamente nada porque a gente é isso personagens no livro de
alguém condenados a repetir os mesmo erros mais uma vez e mais uma
vez num ciclo sem fim de dor pro divertimento alheio só pra isso pra
existirem mais histórias a serem contadas mas enfim desculpa falei
demais né tá ficando tarde vamo pedir a conta logo acho que a gente
bebeu essas seis cervejas mesmo eu te acompanho até o metrô posso
te dar um beijo?
2 comentários:
Que lixo de texto! Comédia romântica estragou com os jovens!
texto bem prolixo e num entendi direito se eh algo real que ainda te atinge ou se foi só um mero texto filosófico postado num blog mas acredito que se essa mina existiu mesmo, pelo o q eu pude ler nas entrelinhas talvez vc ainda goste dela sem ela ou talvez vc sequer ter consciencia disso, sugiro que tu saia da fábula literária e desse lance platônico de personagens e resolva isso sem medo enquanto ainda eh tempo na vida real. por experiencia propria eu digo q nunca eh tarde demais pra essas coisas ^^
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