segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Pequenos fragmentos da vida alheia - I

Harrison's Pub, 12 Nov. 08, aprox. 18h56

(Trecho segue-se de interlúdio a respeito de reminiscências do trabalho)

- ... e é óbvio que o sujeito furou, né? Quer dizer, porra, a palavra tava ali na frente dele, e ele furou! Tipo... não dá pra levar a sério, saca?
- Foda.
- É muito foda.
- É.
- (silêncio) A F. terminou comigo.
- Porra. Quando?
- Antes de ontem.
- Cacete. Que merda! Pô, você não me falou nada antes.
- É, sei lá... tava assimilando, saca?
- Foda.
- É.
- Mas, tipo, o que houve?
- Sei lá, velho. Piração de mulher. Não sei.
- (silêncio).
(Goles alternados de cerveja-importada para ambos)
- Tipo, ela veio falar comigo, papo que eu não levava a sério a relação, que eu tava sempre com um pé atrás.
- Você?
- Pois é! Na verdade, ela chegou toda meiga, sei lá, a gente tava conversando numa boa, sabe? Aí, sei lá, eu tava pensando numas coisas ultimamente...
- Que coisas?
- Ah, sabe quando você vê que a coisa toda, o relacionamento e tal, tá evoluíndo e você tem que começar a tomar umas medidas? Assim, quando a coisa meio que virou um namoro, mas ainda não é um namoro, e você sabe que deveria meio que oficializar isso com ela, e se preocupar em comprar um presente de natal bacana, e se você tem que ver qual é a programação dela pro ano-novo e se vocês vão passar juntos (gole de cerveja) sabe? Mas, ao mesmo tempo, você fica com aquele pé atrás, porque você tá realmente pensando essas coisas, mas e ela? Às vezes ela tá achando que vocês tão passando um tempo juntos sussas, e não vai ser nada demais, ou pelo menos ainda não é, e você chegar e tentar todas essas coisas... as coisas oficiais... pode ser um tremendo peso. Entende?
- É, tipo, como se você tivesse muito apaixonado e quisesse forçar as coisas.
- É, meio ficar parecendo algum tipo de maluco obcecado, sabe?
- É, sei.
- Então... mas aí a gente tava nesse papo bacana, meio sussas, e ela muito fofa, meio meiga e tudo mais, e tudo bem, mas eu tava com essas coisas na cabeça, e aí você sabe como eu sou...
- Meio impulsivo e tal, né?
- É, meio impulsivo.
- Sei.
(Goles alternados de cerveja-importada para ambos)
- Aí eu disse, tipo "queria te falar uma coisa" e ela "fala" e eu "é meio idiota, eu acho" e ela "tudo bem" e eu "então... queria te dizer que, tipo, se você não quiser mais ficar comigo em algum momento e tal, seja honesta, ok?" (gole de cerveja).
- E ela?
- Aí ela, tipo, ficou meio olhando pro nada um tempo, sabe, e tipo pirou! Tipo, veio com um papo de que eu "forçava demais as coisas, e que nunca sabia o que queria da vida, e pisava no acelerador e depois no freio (péssima analogia, né?) e que tava jogando um verde pra ela terminar comigo e que eu sempre fazia isso e que, se era isso que eu queria, ela terminava".
- Putz... que merda.
- É.
- Mas, pô, não era exatamente você que queria algo sério?
- É.
- Foda.
- É.
(Goles alternados de cerveja-importada. Dedos levantados em direção à garçonete. Dois pints Heineken. Olham a bunda da garçonete, enquanto ela se afasta. Sorrisos maliciosos trocados entre ambos)
- Tipo, não é que eu QUISESSE algo sério, sabe? Como se fosse isso ou nada. É só que, bom, sei lá, a coisa assim em aberto me irrita.
- Saquei.
- Assim... eu gostava da F., ou sei lá... assim, eu gosto dela, ela é, ou era, não sei, uma garota massa, saca? E sei lá... podia ser massa ficar com ela, tipo, sério, assim...
(Dois pints Heineken são postos na mesa. Sorrisos maliciosos goles de cerveja-importada)
- Foda.
- É, foda.
- Mas e aí? Vai ligar pra ela?
- Não.
- Certo!
(Goles de cerveja importada)
- Não tem que ligar mesmo. Mulher é foda.
- É.
- Tipo, que nem a (?), lembra?
- Essa foi foda...
- Porra, a mina ficou no meu pé um mês. Um mês. Aí tá, beleza, acabamos saindo e eu fiquei com ela, e ela me liga no dia seguinte, e a gente sai de novo dois dias depois, e ela manda mensagens no meu celular, e pô, o que eu penso? "Tá, essa garota tá mesmo a fim de mim", e começo a relaxar, sabe?
(Goles de cerveja) Começo a ligar também, a mandar mensagem... e duas semanas depois, ela termina porque "eu tô levando a coisa muito à sério".
- Vadia.
(Goles de cerveja)
- Não dá pra entender. Se você não telefona e faz, tipo, que não liga muito, você é um insensível e aproveitador; se liga, você tá indo rápido demais e não vai dar certo.
- É foda.
- Acho que não dá pra entender.
- É meio, assim, nós dois somos caras muito legais, sabia? A gente tenta não sacanear ninguém, e acaba sendo sacaneado por isso.
- É!
- Tipo... no fim das contas, essas minas são tão zuadas que tipo, elas querem um cara que vá zuar mais com elas.
- É meio que um lance "preciso ser uma mártir".
- É, meio culpa católica.
- É.
- Aí nós somos, tipo, uns caras sérios (gole de cerveja) e a gente não vai sacanear ninguém, então a gente se fode.
- É.
(Goles alternados de cerveja-importada)
- Mas é um saco ser sacaneado sempre, saca?
- Saco.
- Tipo, pô... sou um cara legal e tudo mais. Não faço o tipo "vamo-pro-meu-apê-que-eu-tenho-uma-coleção-de-selos-incrível" nem nada, então, pô...
- Eu sei. Mesmo.
- Então, cara...
(Goles alternados de cerveja-importada)
- Acho que eu devia ligar pra F., sabe, pra ver se tá tudo bem.
- Não faz isso, cara.
- Sei lá, eu meio gosto dela.
- É, foda.
- Muito foda.
- É...

- Mais dois pints, por favor?!
- ...
- Essa garçonete é uma graça, né?
- Mó gostosa.
- Eu poderia casar com ela. Tipo, amanhã. Fácil.
- E a F.?
- É mesmo... ah, foda-se ela.
- É!
- É...
(Goles alternados de cerveja-importada para ambos).

Um comentário:

thiago mottanetto disse...

putz... que papo de bebum!